Memória de um pioneiro
O garimpeiro Genésio Donizete Nunes, 45 anos, chegou a Serra Pelada em 1983. Veio da cidade Americana (SP), onde era metalúrgico, com um grupo de mais de vinte jovens . Na época, parte de seus amigos conseguiu encontrar ouro. Ele, porém, não teve a mesma sorte. Só extraiu o suficiente para sobreviver nos primeiros anos.
Mesmo assim, fixou-se no distrito, casou e teve uma filha. Com o passar dos anos, a atividade de extração ficou mais difícil e, logo, o garimpo foi fechado. "O buraco aumentava a cada dia e não havia segurança para trabalhar. Muitos trabalhadores morreram nos barrancos", revela Nunes. Apesar de tanto sofrimento nos garimpos, ele ainda permanece na serra com a esperança de que voltará a explorar o solo da região. Leia memória abaixo:
"Garimpeiros, bravos e autênticos exploradores do solo brasileiro. Fazem aflorar riquezas aos filhos da pátria amada. Os garimpeiros de Serra Pelada são os descobridores da maior mina de ouro à céu aberto do mundo. Mas também são conscientes, competidores de desafios que transformam em realidade um sonho que se renova a cada dia. Conquistam novos espaços para alcançar um mundo melhor.
Em 1980, foi encontrada uma pepita na grota da Fazenda Três Barras e, então, o proprietário Genésio Ferreira convidou alguns garimpeiros da região para trabalhar em sua propriedade. Foi ligeiro que a notícia correu por todo o território brasileiro. Em pouco tempo, havia mais de 100 mil homens no garimpo, que ficou conhecido mundialmente pelo nome de Serra Pelada.
Até 1983, o garimpo produziu mais de 40 toneladas de ouro, quando uma companhia tentou de todas as formas tirar os garimpeiros do local. Foi quando o então deputado federal e líder dos garimpeiros Sebastião Curió Rodrigues de Moura, que hoje é prefeito de Curionópolis (PA), entrou com um projeto na Câmara para criar a nossa Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coomigasp), para lutar por essa reserva de ouro que os garimeiros encontraram.
Essa luta custou caro para os garimpeiros. Foram muitos anos de luta, que pode ser comparada até com a batalha entre Davi e Golias, com muito sofrimento e lágrimas. Passados todos esses anos, hoje, nós avaliamos o passado para saber se valeu apena todo esse sacrifício. Isso porque não temos certeza se o governo federal nos dará autorização para explorarmos nosso subsolo. Talvez tenhamos de buscar outra alternativa para que todo o nosso trabalho não tenha sido em vão.
Serra Pelada tem uma terra muito rica, mas uma pobreza vergonhosa. Falta saúde e saneamento básico. Falta tudo. O padrão de vida é muito baixo e a carência humana é grande. Todos que estão aqui têm o mesmo objetivo de voltar a extrair ouro e buscar um lugar melhor para criar seus filhos. Mesmo sofrendo e apanhando, aprendemos a gostar daqui. Acreditamos que voltaremos a explorar a região."
Genésio Donizete Nunes, pioneiro em Serra Pelada
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