02 fevereiro 2007

Entrevista – Sebastião Curió Rodrigues de Moura Parte V - Militarismo X Política

UnB Agência – O senhor diz que militar não tem jogo de cintura para ser político, mas o senhor é prefeito, que é um cargo político. Como fica essa situação?
Major Curió – O militar não foi formado para política, foi formado para a guerra. Existem exceções. Um militar que foi um grande político, por exemplo, foi Jarbas Passarinho. Mas o militar foi formado para uma missão mais dura, mais direta, precisa. O político tem de ter jogo de cintura, contornar situações, fazer promessas ou deixar a entender que fará algo mesmo sabendo que não o fará. Sou um bom administrador, mas falho politicamente. Não empurro ninguém com a barriga. Se me pedirem favor, não dou o famoso jeitinho. Digo que não posso fazer. Sou direto.

UnB Agência – O senhor é a favor de um militar voltar a ser presidente do Brasil?
Major Curió – Não. Justamente pelo que eu disse. Existem exceções. Há militares que são mais flexíveis, que têm mais diálogo e jogo de cintura político. Sou a favor de o governo civil trabalhar em parceria com o militar, inclusive no combate à criminalidade. O apoio das Forças Armadas daria mais força e rigor ao combate.

Entrevista – Sebastião Curió Rodrigues de Moura Parte IV - Pena de morte e aborto

UnB Agência - O senhor é a favor da pena de morte?
Major Curió – Adianto que podem ocorrer injustiças, mas sou a favor da pena de morte para crimes hediondos com requintes de selvageria. Tivemos casos graves no Brasil como o do bandido da luz vermelha e o da mala. São pessoas que não podem viver em sociedade. Se recebem sentença de 30 anos de prisão e são réus primários, por exemplo, cumprem apenas um terço da pena e têm liberdade condicional. Assim, voltam a praticar o crime.

UnB Agência – O senhor é a favor do aborto?
Major Curió - Sou contrário. O feto é um ser humano que ainda não tem o direito de decidir sobre sua própria vida. O casal deve tomar todas as medidas preventivas, mas, se a mulher engravidar, deve tomar todos os cuidados com o filho.

UnB Agência – E qual é a sua opinião a respeito do casamento entre pessoas do mesmo sexo?
Major Curió – Sou completamente contrário. Acho uma degradação, ridículo. Pela lei da natureza, a mulher foi feita para o homem e vice-versa. São pessoas com pensamentos e sentimentos iguais, mas com sexos diferentes. Cada um tem de exercer a sua atividade. Podem até me chamar de machista, mas é o meu pensamento como homem. É ridículo ver dois homens abraçados na rua.

Entrevista – Sebastião Curió Rodrigues de Moura Parte III - Saúde e Educação

UnB Agência – Como o senhor trabalharia para melhorar a saúde do país?
Major Curió - A saúde tem de ser descentralizada dos grandes hospitais e do centro. É isso que fazemos aqui em Curionópolis. Também é importante que haja a saúde preventiva para diagnosticar com antecedência determinados tipos de doenças. Se descentralizarmos a saúde por meio de projetos como o Programa de Saúde Família (que atende a comunidade de casa em casa), descongestionaremos os hospitais e melhoraremos indiscutivelmente o atendimento.

UnB Agência – E a educação?
Major Curió – Eu trabalharia para facilitar o acesso ao ensino, principalmente na zona rural, como é o nosso caso aqui. Já no ensino superior, são necessárias mudanças radicais. Sou a favor de que a seleção seja feita desde o ensino médio para facilitar o acesso dos alunos às faculdades. Dessa forma e sem o vestibular tradicional, as condições de ensino seriam melhoradas e os alunos teriam mais incentivo para estudar.

Entrevista – Sebastião Curió Rodrigues de Moura Parte II - Segurança Pública

UnB Agência – Como o senhor lida com a questão de segurança em Curionópolis?
Major Curió – A segurança é uma necessidade e uma das maiores aspirações do povo. Aqui, nós fazemos cumprir a lei. É bandido? Vai pra cadeia. Reage à mão armada? É respondido à mão armada. Toda ação tem uma reação em igual intensidade e em sentido contrário. Há certos tipos de delinqüentes que não têm outra solução a não ser prisão e, se resistir, a mão armada. Tem de haver muita força de vontade para combater a delinquência e a criminalidade. É raríssimo ver um assalto aqui. Sempre festejamos o carnaval e nunca houve uma briga aqui. Se pintar um bandido, nós não esperamos que ele pratique um crime. Todo bandido tem uma ficha. Vimos que chegou, pedimos o currículo e prendemos imediatamente.

UnB Agência – O senhor é conhecido como um homem muito rígido. Como o senhor combateria os problemas de segurança pública no país?
Major Curió - Sou uma pessoa humana, mas cumpro a lei. Não abro mão de os infratores responderem por seus crimes. Por isso, dizem que sou rígido. Baixo uma ordem e ela tem de ser cumprida. No Brasil, faltam vontade política e um esquema estratégico compatível com a força da criminalidade. O primeiro problema é que se combate a criminalidade, muitas vezes, com forças policiais no seio das quais existem integrantes de quadrilhas. Inicialmente, tem de se fazer uma seleção nas forças, começar pelas cabeças, pelos mandantes. Aqui em Curionópolis, pegamos quem alimenta a criminalidade. Em São Paulo, por exemplo, não vejo necessidade de polícia militar de um efetivo tão considerável. Bastaria vontade política e um aparelhamento bélico compatível com o dos criminosos, que estão mais bem armados que a polícia.

UnB Agência - Na prática, como o governo federal deveria agir em relação à segurança pública?
Major Curió - Tudo começa com um trabalho de inteligência de informação e com um sistema estratégico. É preciso saber quem é quem para, depois, selecionar as equipes da polícia. Operacionalmente, às vezes é ridículo ver policiais subindo os morros do Rio de Janeiro em fileiras. Tem de ser uma operação especial em combate militar para cercar uma área daquela. Fazer triagem na saída da população e deixar o morro como um campo de batalha porque bandido tem esconderijo, sistema de alerta, está mais bem armado que a polícia.

UnB Agência – O governo Lula está devagar nessa questão?
Major Curió - Sim. Onde estão os criminosos que atacaram os postos policiais, atiraram na população, queimaram ônibus e implantaram o terror em São Paulo (p). Eu não tenho conhecimento. Tem de haver uma ação. Talvez o Lula tenha um pouco de dificuldade porque nós vimos o governo de São Paulo dizer que não queria apoio do governo federal na segurança, mas o próprio Lula viu que o esquema do estado não era eficiente. O próprio governo federal tinha de intervir e tomar a frente do combate. Reafirmo que falta vontade política.

Entrevista – Sebastião Curió Rodrigues de Moura Parte I - Serra Pelada e Curionópolis

Sebastião Curió Rodrigues de Moura, 72 anos, pisou no Sul do Pará pela primeira vez em 1972. Enviado pelo governo militar para comandar uma operação de inteligência, ele tinha a missão de identificar os guerrilheiros do Partido Comunista do Brasil (PC do B) no Araguaia. A segunda vez foi em 1980, quando foi descoberto ouro em Serra Pelada. Ele foi para lá, então, como interventor federal para colocar ordem no garimpo. Oito anos depois, fundou o município de Curionópolis, que recebeu nome em homenagem a ele. Hoje, o major ainda manda no pedaço de chão à beira do Km 30 da rodovia PA-275, mas como prefeito eleito democraticamente.

O apelido de Curió que ainda o acompanha surgiu nos primeiros anos do exército, quando ele freqüentava a Escola Preparatória de Cadetes, em Fortaleza, na década de 1950. Curió lutava boxe nos fins de semana para completar o dinheiro do soldo. “No Exército, eu recebia como o pagamento de 100 cruzeiros velhos por mês. Com a luta, recebia mais 150 cruzeiros velhos por semana”, lembra-se o major. A fama de brigão de quando era lutador o acompanha até hoje. “Ainda me considero bom de briga. Sou fácil de conviver desde que meus direitos sejam respeitados. Não levo para casa nenhum desaforo. É uma questão de temperamento e de filosofia de vida. Não admito ofensa. Dou o troco”, garante o major.

Com uma vida dedicada ao regime militar, o major Curió não economiza nas críticas ao governo federal. No que diz respeito à segurança pública, por exemplo, o prefeito considera que o governo Lula é lento no combate ao crime. Ele defende que deve haver um trabalho de inteligência de informação e um sistema estratégico. Leia essa e outras opiniões do lendário Major Curió em entrevista exclusiva à UnB Agência:

UnB Agência – Como foi a organização de Serra Pelada?
Major Sebastião Curió Rodrigues de Moura
- A Serra surgiu da noite para o dia. O movimento migratório de garimpeiros foi impressionante. Como nós estávamos saindo de um conflito social (em referência à Guerrilha do Araguaia), havia, indiscutivelmente, um trabalho de massificação por parte dos componentes do Partido Comunista do Brasil (PC do B) e até mesmo de certas facções da esquerda clerical. Na época, eu era chefe do Setor de Informações do Exército e fui mandado para lá para conseguir conduzir aqueles homens numa política favorável ao governo. A intenção inicial não era dar apoio social nem comercial, mas sim político-ideológica. Para isso, nós tinhamos de conseguir meios de apoio com alimentação, saúde, segurança e pagamento justo do ouro. Consegui desviar aquela massa de toda e qualquer idéia de guerrilha.

UnB Agência – Desviou por meio de quê?
Major Curió
- Tecnicamente, esse é um trabalho de força especial. Entrei em Serra Pelada com uma equipe de governo e começamos a apoiar os garimpeiros. a idéia inicial era político-ideológica, trabalhamos com o hasteamento da bandeira todos os dias e com o incentivo ao patriotismo. Viva o Brasil! Viva o Brasil! Viva o Brasil! Cresceu o sentimento de patriotismo e ganhamos aquela massa toda.

UnB Agência - E como foi a criação do município de Curionópolis?
Major Curió - Aqui era o município de Marabá. As pessoas só conseguiam chegar a Serra Pelada por via aérea. Os aviões pousavam e decolavam constantemente e o fluxo de entrada e saída de homens aumentava a cada dia. A pista tornou-se pequena e o transpote via aérea caro e inviável. Por isso, começamos a construir a estrada e os garimpeiros trouxeram suas mulheres e filhos para o Km 30 da rodovia PA 275. Foi quando surgiu um povoado desordenado e sem infra-estrutura. Recebi ordem de Brasília pra queimá-lo, mas considerei que tinha uma missão difícil, que era de organizar a região. Abri ruas, construí o primeiro colégio, mandei distribuir lotes gratuitamente. Assim estruturamos a cidade. A população batizou o povoado com o nome de Curionópolis à revelia. Eu mesmo não queria. Bati o pé porque eu ainda estava vivo e só se dá nome em homenagem a alguma pessoa quando ela já morreu, mas não adiantou.

UnB Agência - Como o senhor avalia a situação de Serra Pelada hoje?
Major Curió
- Imagino o futuro de Serra Pelada como uma cidade emancipada, mas considero muito difícil a exploração das galerias subterrâneas. É totalmente impossível a lavra manual em Serra Pelada. A exploração tem de ser feita com uma tecnologia altamente especializada, que existe apenas no Canadá e na África do Sul. Além disso, a Cooperativa de Mineração dos Garimpeiros de Serra Pelada (Coopmigasp), que é a que tem direito de explorar o solo, não presta contas para a Junta Comercial do Estado há dois anos. Assim, mesmo se ela conseguisse o alvará de lavra do governo federal, não poderia extrair ouro. Por outro lado, a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) virá explorar ferro aqui e isso trará impostos e desenvolvimento para a região.

Novas perspectivas profissionais


Os jovens de Curionópolis (PA) puderam refletir a respeito de seu futuro e de suas perspectivas profissionais durante a feira Construindo Nossas Vidas, realizada pela equipe de rondonistas da UnB na quita-feira, 1 de fevereiro, na escola Almir Gabriel. Eles participaram da oficina Educação, futuro e profissão, organizada pelo estudante do 6° semestre de Pedagogia da UnB Francisco Márcio Amado, 28 anos.

Presente ao encontro, a estudante Thaís Teixeira Gava, 14 anos, aproveitou a oportunidade para tirar dúvidas a respeito dos cursos, do tempo de duração de cada graduação e dos processos de seleção das instituições de ensino superior (IES) espalhadas pelo Brasil. “Não temos esse tipo de discussão por aqui. Até mesmo no colégio falamos muito pouco sobre o assunto. Tudo o que aprendi poderei ensinar a outras pessoas”, diz Thaís.

Amado avalia avalia que a oficina fez com que os jovens tivessem uma nova visão a respeito de seu futuro profissional. “É gratificante poder conversar abertamente com jovens daqui a respeito de temas como educação e profissão. Fiquei satisfeito ao perceber que eles tiraram dúvidas e, agora, estão muito mais convencidos do seu potencial”, afirma o rondonista.